Despretensiosamente, Hugo Golon (Blasthrash, Comando
Nuclear, Infected, Side Effectz, ex-Em Ruínas, entre outros) resolveu gravar um
trabalho e chamar seu projeto de Cemitério. Um álbum auto-intitulado foi o
fruto disso e é uma verdadeira ode às raízes do Metal extremo. Conversamos com
Hugo, que de forma simpática e sincera, falou sobre sua nova empreitada.
Primeiramente conte-nos como surgiu
a ideia de criar o Cemitério?
Hugo Golon - Eu
sempre quis gravar e produzir algo sozinho e, com a facilidade que se tem hoje
em dia, de investir pouca grana e comprar bons equipamentos, gravar em casa da
maneira que lhe agrada, sem ilusão, sem pressão e sem gastar tubos de dinheiro,
me vi na obrigação de correr atrás, sempre com a ajuda do meu parceiro Ronaldo
Bodão.
E como foi o processo de composição
do primeiro álbum?
Hugo - O
processo foi o mais espontâneo e instantâneo possível. Foram duas semanas nas
quais eu fazia até três músicas por dia e, quando criava o riff, já o gravava e
é o que está no disco. Quando estava na segunda ou terceira música, nem
lembrava mais da primeira, no dia seguinte chegava a serem quase inéditas pra
mim. Gravei a bateria por último, tocando de duas em duas peças no controlador
de midi (teclado), sem sequenciar e editar, com erro mesmo!
A sonoridade voltada ao Metal
Extremo ‘old school’ sempre foi o seu objetivo?
Hugo - Sem
dúvidas! Minha inspiração principal foi a sonoridade dos primeiros discos do
Death, Possessed e do Pestilence.
Você integrou e integra diversas
bandas de estilos distintos. De alguma forma isso influenciou o som do
Cemitério ou você procurou fugir disso?
Hugo - Algo do
Side Effectz pode me influenciar, mas bem pouco, pois o Side Effectz tinha
riffs de Thrash em meio à porradaria Death/Grind. Já no Cemitério, os riffs são
macabros e os vocais mais cavernosos. Eu estou com uma banda nova também com
elementos de Death Metal ‘old school’, o Virgin's Vomit. Porém, nosso som vai
do Motorhead, passa pelo “Show No Mercy” do Slayer vai até o “Scream Bloody
Gore” do Death, pitadas de “Altars Of Madness” do Morbid Angel, com vocais na
linha do Kam Lee (Mantas, Massacre). Chamamos de Speed/Death Metal e a banda
conta comigo na batera e vocal, Whipstriker no Baixo e Poisonhell na guitarra,
ambos do Farscape e meus irmãos de estrada.
Além da veia ‘old school’,
“Cemitério” mostra uma sonoridade que nos remete a nomes nacionais como Dorsal
Atlântica e Vulcano. Essas bandas fazem parte da sua influência?
Hugo - Certamente!
Os primeiros do Dorsal são foda e o Vulcano nem se fala! No caso do Dorsal,
houve mais um acaso na parte vocal, pois é em português. Se eu cantasse em
inglês, ninguém citaria a influência. Vários riffs foram inspirados pelos
primeiros do Sepultura, Mutilator, Chakal, Vulcano, Dorsal... Inclusive se eu
fosse citar influências em vocal nacional, seriam o Uruka do Vulcano e o Korg
do Chakal, que pra mim são dos melhores do mundo! Para escrever as letras, eu
pensava nas métricas do Slayer, Possessed e do Pestilence.
A temática do disco aborda temas de
filmes de horror. Por que decidiu abordar estes temas?
Hugo - Ouço Metal
e vejo filmes de terror desde muito criança. Fazer letra sempre foi a parte
mais chata pra mim, então quando fui fazer a primeira letra, pensei em ‘A Volta
dos Mortos Vivos’ (N.E.: filme de 1985 com direção de Dan O'Bannon), que
encaixava perfeitamente com o riff. Então, não pestanejei em seguir adiante com
a temática.
Qual critério você usou na escolha
dos filmes? Algum filme que você queria colocar no álbum chegou a ficar de
fora?
Hugo - Primeiramente,
procurei escolher filmes que gosto e, junto com o Bodão selecionei títulos que
não repetissem palavras, o que é muito comum em filmes de terror (sinistro, macabro...).
Ficaram vários filmes de fora e, tenho uma lista pra mais dois discos e um EP,
só esperando pelas músicas e letras, que já estão começando a serem gravadas.
O trabalho todo, inclusive a
produção foi feito por você. Por que decidiu trabalhar dessa forma, ou seja,
completamente sozinho?
Hugo - Eu sempre
quis aprender a gravar e produzir. Hoje em dia a informação está muito fácil,
então fui atrás de vídeos no YouTube que dão dicas, baixei os programas
necessários e não perdi tempo. Ou eu gravava sozinho ou esse play não seria
gravado, pois não tinha ninguém com tempo livre na ocasião. Foi tudo feito no
meu quarto, só saí dele pra gravar os vocais, no quarto que minha mãe passa
roupas!
Somente na arte gráfica você contou
com a ajuda de Wanderley Perna (Genocído). Como chegou até ele e como foi
trabalhar com Perna?
Hugo - Eu sou fã
do Genocídio desde o início dos anos 90, inclusive vi um show deles com o
Dorsal no Aeroanta! Eu conheço ele faz bastante tempo, inclusive fez a capa do CD
“Traitors Execution” (2002) do Side Effectz. Foi muito tranquilo pois o cara
manja muito e é brother, consertou minhas cagadas e adicionou coisas
sensacionais!
Como tem sido a repercussão de
“Cemitério” até então? E como está o trabalho com a Kill Again Records, que
lançou o disco?
Hugo - Para um
projeto despretensioso, que talvez não saísse do meu computador e, só saiu por
insistência de amigos, principalmente o Bodão, sem link patrocinado, assessoria
e jabá zero, está muito boa e verdadeira a repercussão! O trabalho realizado
pelo Rolldão da Kill Again é referência, isso é sabido por todos que vivenciam
de fato a cena underground. Fiquei muito surpreso quando ele entrou em contato
comigo. Logo mais sairá em vinil, não vejo a hora!
Você pretende montar uma banda para
te acompanhar em apresentações?
Hugo - Eu teria
que dispor de muito tempo e dinheiro, pra passar todas as músicas para uma
banda inteira. Se um dia eu tiver tais condições, certamente o farei e até
tenho quem me acompanhe e, poderia ter diferentes formações, de acordo com a
disponibilidade do pessoal, porém falta grana e tempo mesmo.
Muito obrigado pela entrevista, pode
deixar uma mensagem.
Hugo - Muito
obrigado você Vitor, pelo interesse no meu projeto e parabéns pelo trabalho!
Queria agradecer ao Ronaldo Bodão, Antonio Rolldão & Kill Again, Wanderley
Perna e Daniel Golon e todos que compraram o CD, valeu mesmo!
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