quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Entrevista



Gilson Rod é proprietário da agência Imperative Music e um verdadeiro batalhador e amante do underground. Há anos vem se dedicando ao trabalho e divulgação de bandas, e desde 2009 lança a coletânea que leva o nome de sua agência divulgando bandas de todo o mundo. Nada melhor que o próprio Gilson, para contar mais sobre seu trabalho e o que estar por vir.

Primeiramente gostaria que você se apresentasse Gilson, afinal conhecemos você somente como o mentor das coletâneas Imperative Music. (risos)
Gilson: Eu sou Brasileiro, tenho 40 anos e a minha entrada na música pesada iniciou quando eu tinha 12 anos de idade e meu irmão mais velho ouvia Kiss, praticamente eu preferia brincar de bola, jogar bolita, Atari (N.E.: empresa de produtos eletrônicos, e uma das principais responsáveis pela popularização dos video games), mas acabei acostumando e gostando, depois comecei a comprar os LPs (vinil) de bandas como Twisted Sister, Pink Floyd, Judas Priest, porém o que me fez cair de cabeça no Metal foi o fantástico e incrível álbum “Master of Puppets” do Metallica em 1986. Logo que foi lançado nos Estados Unidos, e deste então eu comecei a querer ouvir outras bandas de Thrash Metal, eu estava vivendo o momento quando Metallica, Slayer, Kreator, Sepultura estavam lançando os seus primeiros álbuns. Também eu devo ter comprado uns 200 fanzines, revistas como o Metal Forces, Metal Maniacs, Rock Brigade para ler as entrevistas das bandas e me corresponder com os fãs/headbangers. Eu fui editor de vários fanzines como The Book of Monarch, Alchemist Magazine, Metaled, Sound Riot, tive loja para vender material das bandas, e mais tarde, em Março de 1994, trabalhei na Gravadora Sound Riot Records, o primeiro serviço postal de vendas de CDs distribuindo material inédito das gravadoras como Misanthropy Records, Napalm Records, Osmose, Holy Records, Century Media, Nuclear Blast, Pagan Records, Cold Meat Industry, entre outras, também as Demo-tapes e compactos em vinil do Rotting Christ, Samael, Dark Tranquillity, My Dying Bride, Behemoth, sim, quando essas bandas estavam bem no começo, pequenas e desconhecidas no Brasil, a gente trouxe para cá este material para introduzir a música Underground no Brasil, e até o Black Metal foi a Sound Riot que deu nascimento a raiz, pois na época o pessoal estava mais ligado ao Thrash Metal e Death Metal. Eu era uma máquina assassina, fiz tudo e muita coisa pelo Underground e pela Cena Brasileira, dentro das minhas possibilidades e condições financeiras. A gravadora Sound Riot Records editou mais de 30 Bandas/CDs incluindo o Requiem (Finlândia), Chain Collector (Noruega), Frostmoon (Noruega), Svartsyn (Suécia) com edições europeias e japonesas dos CDs. Eu aprendi os lances de negociar a distribuição dos CDs nas lojas e distribuidoras, os esquemas que trabalhei para licenciar os CDs pela Massacre Records (Alemanha), Limb Music (Alemanha), Marquee Avalon (Japão), Soundholic (Japão), Stay Gold/Art Union Records (Japão) com contratos assinados e também como melhor divulgar/promover os lançamentos ao redor do mundo. Naquela era, o investimento por banda/lançamento foi de R$ 10 mil reais até R$ 30 mil reais, isso não foi apoiar as bandas? Infelizmente com a crise mundial, a baixa das vendas de CDs originais (como o pessoal baixava de modo gratuito os álbuns) a gravadora faliu e acabou em 2006, assim como muitas outras, mais de 50 Gravadoras que existiam naquela época, sumiram do mapa, e hoje em dia, podemos contar no dedo quem sobrou, apenas as grandes. Você sabe, para investir, as gravadoras precisam vender os produtos, pois parte é lucro e outra parte é para investimento futuros na prensagem dos CDs, pagar estúdio, masterização, capa, contador, taxas e taxas para o governo. Uma grande experiência de 12 anos. Então, nasce a Imperative Music em 2005 como Assessoria de Imprensa, fizemos trabalhos para bandas como Craving (Alemanha), Fadeout (Finlândia), Osukaru (Suécia), Territory (Uruguai). Então em maio de 2009 lançamos o primeiro volume de nossa Coletânea CD com distribuição e divulgação mundial, dando oportunidade para as novas bandas terem este serviço profissional para se lançar no mercado internacional. Atualmente eu faço faculdade de Administração; Comércio Exterior, mas ainda dedico o meu tempo e esforço com a cena do Metal, e organizando projetos juntamente com as parcerias aqui no Brasil e resto do mundo para manter o Metal vivo, e quem sabe, voltarmos aos velhos tempos e velhos hábitos de colecionar CDs originais, flyers, cartazes de shows, ir aos concertos das bandas underground, ter as t-shirts (camisetas) das bandas favoritas, trocar ideias e ouvir som no final de semana na casa dos colegas, isso era o Metal de antes. Eu sei que coisas novas e novas atitudes sempre surgem no mundo, e tudo foi e é difícil em se tratando da estrutura do Metal, mas estamos fazendo a nossa parte sem competir, pois o principal motivo é manter a existência do Metal, de um modo ou de outro! Eu sei que alguns novos fãs não sabem que algumas gravadoras, hoje em dia eles não pagam nada para as bandas no caso de despesas de estúdio, a própria banda que tem que pagar tudo, e como podemos ver, muitas bandas lançam independente, pois nem a gravadora quer pagar a prensagem do CD. Fica muito difícil para uma banda brasileira já que nossos salários são limitados, assim, você que estiver lendo essa entrevista ver uma banda pedindo doação em um website, ajude e compartilhe com o projeto, pois a coisa não é fácil e sua cooperação é essencial para manter o Metal.

Como você se iniciou no Metal? Enfim, na música underground?
Gilson: Bem, falar o dia e mês não me lembro direito (risos), mas algumas coisas começaram nos anos 90, colaborei numa rádio de Rock local, depois fiz os fanzines, comprei toneladas de LPs, Demos, EPs, CDs, abri loja, depois trabalhei na gravadora, no serviço postal de vendas materiais underground, e agora recentemente na Imperative Music.

E como surgiu a ideia de lançar a coletânea Imperative Music? Qual o objetivo disso?
Gilson: Eu estive por muitos anos em contato, negociando, trabalhando com empresas (gravadoras, distribuidoras, lojas, licenciadores e a mídia) da Europa, Estados Unidos, America do Sul e dos países asiáticos. Eu fiz uma fusão do que aprendi durantes esses anos nas várias experiências que tive na vida e no mundo da Música. Penso que a coletânea pode ajudar as bandas em muitos meios; ganhar novos fãs, reconhecimento na cena, serem entrevistados, vender o material deles, receber convite para participar em festivais ou shows, e até conseguir um contrato com uma gravadora. Muitas rravadoras como a Metal Blade, Century Media, Nuclear Blast Records pedem a biografia das bandas juntamente com o CD com as músicas da banda, por exemplo, se houver dados na biografia que dizem que a banda já fez 100 concertos no país inteiro, investe 2 horas por dia para divulgar e responder aos fãs da banda nas redes sociais, ensaia 2-3 vezes por semana, ter um vídeo-clip profissional, usar equipamentos bons... Todos os membros da banda pegam aula com professores profissionais para desenvolver e ampliar a sua musicalidade, t-shirts disponíveis, e claro, mencionar a grande divulgação e distribuição onde teve por parte da coletânea da Imperative Music faz o manager da gravadora ter uma noção que a banda já é reconhecida na cena e já foi ouvida por muitas pessoas, etc. O nosso objetivo é proporcionar algo profissional para as bandas relativo à exigência do mercado internacional.

Keflar (Holanda), uma das bandas participantes da coletânea

Quais as maiores dificuldades você encontra na hora de montar o cast das coletâneas? Como você contata as bandas?
Gilson: A confiança e negociação com as bandas tanto do Brasil como as estrangeiras tem sido muito boa, pois apresentamos e assinamos um contrato com todas as clausulas, garantindo segurança e compromisso sério. Quando a coisa é boa, todo mundo consegue ver e aceitar com naturalidade a nossa proposta, e como estamos aqui para apoiar a música que respeitamos, o “Metal/Rock”, temos paciência e habilidades para coordenar os que são experientes ou menos experientes. Na vida devemos entender que quando mais você sabe, não apenas você pode ser capaz de ensinar e ajudar, mas também aceitar que o outro tem o direito e todo o tempo do mundo para aprender aquilo que você levou anos estudando, planejando, trabalhando. Usamos o Facebook ou e-mail para estar em contato com as bandas.

As coletâneas Imperative Music contam com bandas já de renome no underground e, por outro lado, com nomes quase que desconhecidos. Você procura mesclar essas bandas?
Gilson: Eu aprendi lendo os fanzines e quando eu tive contato direto com muitas bandas grandes, eles apoiavam as bandas pequenas. Isso acontece na Suécia, a banda grande sai na fotografia vestindo uma t-shirt de uma banda nova, ou indica a banda para uma gravadora. Eu nunca gostei de competição e como aqui no Brasil é conhecida a tal da “panelinha”, nem sei se existe hoje em dia essa coisa ridícula, eu falo isso, pois temos que seguir o bom exemplo, a união é o fortalecimento da cena nacional. Aceitamos para de Heavy Metal ou as mais pesadas de Death Metal, Thrash Metal, etc. Sim, tivemos o Obituary (EUA) da Relapse Records e o Epica (Holanda) da Nuclear Blast Records no volume 8 e no volume 9 teremos outras boas surpresas! As novas bandas merecem a oportunidade, e a evolução musical vem com o tempo, então as bandas vão aprendendo o caminho certo para realizar as coisas.

Aliás, percebo que você tem dado uma atenção especial com as bandas asiáticas.
Gilson: No Japão e outros países daquele lado, eu consegui ter um relacionamento profissional muito bom, o povo é bem legal havendo seriedade, honestidade em tudo que se faz, então a Imperative Music está falando a mesma língua daquele povo (risos). Eu vejo eles quase como os brasileiros, temos muita criatividade, mas nos falta outras coisas, pois a perfeição da estrutura do Metal está nos Estados Unidos e Europa. Os outros continentes faltam ter melhores estúdios de gravação, um Wacken entende?

E como surgiu a oportunidade de ter o CD produzido nos EUA e masterizado na Alemanha?
Gilson: Meus contatos que tenho até hoje, desde os anos 90 e fazendo parcerias com a intenção de realizar um trabalho profissional.

Como funciona o trabalho de distribuição, já que a coletânea é distribuída no mundo todo?
Gilson: O CD é 100% gratuito, os fãs recebem junto com o catálogo de serviço postal das gravadoras, ou na loja, a pessoa não paga nada. Cada distribuidor recebe uma quantidade de CDs, enviamos para eles por Priority Mail pelos Correios.

Ethereal Sin, banda japonesa que participou da coletânea

Como tem sido a aceitação tanto do público, como da crítica para com a coletânea?
Gilson: Estamos no volume 9, a confiança e interesse apenas cresce e novas parcerias estão surgindo. O público acha interessante ouvir as novas bandas e uma coletânea com bandas do mundo todo, é só imaginar um cara na China, Alemanha ou Austrália ouvindo uma banda Brasileira, é algo exclusivo e raro, os japoneses mesmo adoram as bandas Brasileiras. A mídia em geral gostou da ideia desse projeto reunindo bandas de diferentes países e estilos musicais, e a qualidade da coletânea, já que é fabricado nos Estados Unidos, artwork e masterização profissionais. Cada um encontra pontos positivos, e estão divulgando com resenhas, compartilhando likes no Facebook.  

Você já pensou em lançar álbuns de bandas através da Imperative Music?
Gilson: Além da Imperative Music, eu estou fazendo a faculdade e outros estudos. O tempo fica completo todos os dias, acho que me falta o tempo para ter uma gravadora agora. Porém o meu papel no universo, fazendo as coletâneas é o que eu posso fazer neste momento para ajudar as bandas.

Foi anunciado no próximo volume a participação do Obituary no disco. Como aconteceu esse contato e como você se sente em trabalhar com essa lenda do Death Metal?
Gilson: Eu sou fã deles desde o primeiro álbum “Slowly We Rot” de 1989, e a gravadora deles, a Relapse Records eu conheço desde quando eles fundaram o selo, somos amigos por muitos anos, e fazendo negócios. Opa, é um grande prazer ter Obituary na coletânea da Imperative Music, e eles apoiando este projeto nosso, é uma assinatura de aprovação de grandes músicos e verdadeiros apoiadores do Metal, ainda que nós estejamos no Brasil e somos pequenos, o Metal é mundial, uma grande família, entende, um ajuda o outro. Essas são as bandas apresentadas na Imperative Music Compilation Cd - Volume 8; Epica (Holanda), Elephant (Brasil), Obituary (Estados Unidos), Killrazer (Australia), Fallen From Skies (Uruguay), Agni Kai (Macedonia), Guilty As Charged (Belgica), Fragmenta (Australia), Numbness (Brasil), Winterhearth (Canada), Spit (Brasil), Meltdown (Suiça), Seconds To End (Novo Mexico), Marenna (Brasil), Kingdom Stone (Brasil), Harry Loisios (Holanda) E Shepherd (Taiwan).

Outra notícia bombástica foi a de que a Nuclear Blast irá distribuir o volume 8. Como surgiu essa parceria com um dos maiores selos do Metal mundial?
Gilson: A Nuclear Blast é a maior gravadora de música pesada da Europa, que lançou grandes bandas e mantendo o seu objetivo e luta na preservação do Metal. Também, eu tenho contato com eles já alguns anos e experiências passadas. É com eu disse, a Cena do Metal é apoiar um e o outro, não importa quem é o maior e quem é o menor na história, somos uma grande família lutando e trabalhando pelo Metal mundial!

E quais as outras novidades da Imperative Music?
A Imperative Music está trabalhando no volume 9 da Coletânea para lançar em Nov/Dezembro de 2014. E na Coletânea CD volume 9, oficialmente, nós apresentaremos os Ingleses Devilment, a nova banda de Dani Filth do Cradle of Filth (Nuclear Blast Records) e a banda Abysmal Dawn (Relapse Records). Para 2015 continuaremos a lançar mais coletâneas, portanto, as bandas podem escrever e pedir o contrato, nós estamos aqui de portas abertas. Também voltaremos a prestar serviços de assessoria de imprensa, bandas podem ir escrevendo e pedir mais detalhes para divulgar a sua banda tanto no Brasil como no estrangeiro.

Obrigado pela entrevista Gilson. Pode deixar suas considerações finais.
Gilson: Vitor, muito obrigado pela oportunidade para apresentar este projeto da Imperative Music e as bandas que estão participando conosco. Também deixo meus agradecimentos a todas as outras pessoas que estão ajudando e apoiando, todos nós juntos manteremos o Metal vivo e fazendo muito barulho. Tudo é possível, acredite na sua música, faça o melhor e estaremos aqui para dar aquele empurrão para levar sua banda mais longe, a um nível profissional e internacional! Um abraço para todos!


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